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SANTIAGO DE COMPOSTELA

Glauco Diniz Duarte
Glauco Diniz Duarte

Glauco Diniz Duarte diz que a melancólica e violenta costa da Galícia, com suas ondas fustigando incessantemente os rochedos, por séculos proveu as mesas locais dos pescados que lhe fizeram a fama. Por ali chegaram também, diz a tradição, os restos do apóstolo Tiago, fato que colocaria esse canto da Europa no mapa de milhares de peregrinos. Colonizada por tribos celtas que por ali deixaram vestígios tão insuspeitos como a gaita de foles, sua cultura é única – baseada no galego, o idioma latino mais próximo do português –, orgulhosa e cada vez mais valorizada pelos jovens. Se sua natureza é verde e deslumbrante, a maior atração da região está sem dúvida em Santiago de Compostela e toda a mística acerca da lendária descoberta dos despojos do apóstolo.

O CAMINHO DE SANTIAGO
Segundo conta a tradição, o apóstolo Tiago pregou a palavra de Cristo na Hispânia após a morte de Jesus. Em seu retorno à Judeia, foi martirizado e seu corpo levado de volta à Ibéria e ali secretamente sepultado. A descoberta de seu túmulo teria se dado no século 9, por um ermitão guiado por uma estrela (daí o nome Compostela), dando início às romarias, com fiéis vindos de toda a Europa cristã, da Escandinávia à Bretanha.
Existem vários caminhos que levam a Santiago, mas o mais tradicional é o que cruza os Pirineus e se inicia na Espanha a partir de Roncesvalles, o chamado Caminho Francês. Por ele atravessam-se cinco comunidades autônomas espanholas – Navarra, Aragón, La Rioja, Castilla y León e Galícia –, num total de 900 quilômetros. A rota se tornou tão popular que um certo código de conduta foi criado, algo como um bisavô dos guias de viagem, o tomo 5 do Liber Sancti Iacobi (O Livro de São Tiago, também conhecido como Codex Calixtinus), com um amplo detalhamento das diversas regiões pelas quais o viajante deveria passar, incluindo dicas sobre alimentação e artes.

No passado, Santiago de Compostela competiu com Roma pelo posto de principal polo de peregrinações na Europa. Hoje, se não atrai mais multidões, segue popular, com pessoas percorrendo os caminhos de bicicleta, a cavalo, de moto e mesmo de carro – seja por motivos religiosos, turísticos ou busca de um desafio pessoal. Uma excelente fonte de informações está em www.xacobeo.es, site oficial do governo galego, repleto de informações sobre pontos de interesse, a rede de albergues e contatos com associações de peregrinos.

Preparando-se para seguir a estrada
Não há só um caminho até Santiago de Compostela. O mais famoso é o francês, mas outros muito percorridos são o Caminho Português (que vem de Braga e Porto), o Caminho Sudeste-de la Plata (que passa por Ourense), o Caminho de Fisterra-Muxía e o Caminho Inglês (vindo do porto de La Coruña). Todos têm suas dificuldades e, em comum, seu final em Santiago de Compostela. É inclusive muito comum ver alguns peregrinos percorrerem a rota clássica do norte e depois fazerem um círculo mesclando as sendas do norte e de Fisterra.

Em comum a todas as rotas é o preparo tanto espiritual como em termos de equipamentos. Um calçado confortável e devidamente amaciado é o item principal de sua bagagem. Em seguida, uma boa mochila, ergonômica e proporcional ao que você aguenta de peso. Meias confortáveis próprias para trekking, uma parka ou capa de chuva transpirável e um estojinho de primeiros socorros também são itens importantes no preparo da bagagem. Todos os demais quesitos — alimentação, vestimentas, hospedagem — dependem muito de quanto tempo você tem disponível, quanto quer gastar para dormir (com ou sem pequenos luxos) e como está seu preparo físico. Tenha uma dieta razoavelmente calórica, hidrate-se bem e siga caminho.
Afinal, centenas de milhares de peregrinos já percorram essas estradas e nunca ouviram falar de gore-tex, camelo de hidratação, lanterna de led ou bastão de caminhada. No final, todos chegam lá.

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