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GLAUCO DINIZ DUARTE  Setor de construção civil vê crescimento no horizonte

No que já parece hoje um passado longínquo, de 2010 a 2014, o setor de construção civil surfou na onda do crescimento econômico brasileiro, impulsionado pelo programa Minha Casa Minha Vida, que abriu a possibilidade das camadas mais pobres da população terem acesso à moradia, ao crédito farto e barato e aos investimentos de indústrias e empresas de serviços, que, além de ampliarem os negócios, abriam novas unidades.

O céu era de brigadeiro, e a velocidade, de cruzeiro; em 2010, o crescimento em receita chegou a 23% em relação ao apurado no ano anterior; nos anos seguintes, investimentos em infraestrutura e obras da Copa do Mundo. Percentuais e cenários os quais dirigentes do setor nem se atrevem a sonhar hoje. No ano passado, entre os 12 setores da economia estudados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a construção civil foi o que teve a maior queda no Produto Interno Bruto (PIB) de 2017, encolhendo 5%.

A queda foi generalizada nos demais indicadores do setor. A mão de obra ocupada na construção em 2017 diminuiu 6,2%; e as operações de crédito no setor decresceram 2,2% no ano passado. Os números do segundo trimestre deste ano tampouco são exatamente animadores. Divulgados pelo IBGE no final de agosto, indicam que o segmento não deixou a chamada zona de recessão técnica, quando há dois trimestres seguidos de queda. A redução foi de 0,8% ante o período de janeiro a março. Já em relação a 2017, a queda foi de 1,1%. É que a construção civil é um dos setores mais sensíveis a oscilações e instabilidades na economia e na política – altas taxas de endividamento e desemprego, somadas a baixo investimento em infraestrutura, deprimem o segmento.

 A greve dos caminhoneiros, que causou um efeito cascata na economia do País no primeiro semestre do ano, também refletiu nos resultados da construção civil. Mas depois de amargar quedas consecutivas com a instabilidade que o País vem experimentando de 2015 para cá, a expectativa pela recuperação parece começar a ganhar corpo entre os empresários do setor. É que, depois de dois anos em queda, o PIB brasileiro registrou um tímido crescimento, na faixa de 1%. Nota da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) indica que “os sinais de melhora vêm aparecendo nos últimos quatro trimestres, quando a construção passou a ter resultados positivos após uma série de oito trimestres negativos, iniciada em 2014.

Nos últimos três meses de 2017, o setor ficou estagnado (0%)”. Com uma luz, ainda que tênue, no fim do túnel, os empresários do setor voltam a ficar otimistas. Mas nada para este ano – o olhar está voltado para o segundo semestre do ano que vem, quando o novo presidente da República já terá tomado posse e mostrado a que veio. “Estamos em compasso de espera, esperando um presidente comprometido com as reformas”, diz o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Aquiles Dal Molin Júnior.

“Foi o momento mais longo de crise no País, e tão profunda. Esses sobressaltos fazem diferença”, afirma. Vice-presidente da comissão de Construção Civil da Federação das Indústrias do RS (Fiergs) e da Cbic, Ricardo Sessegolo concorda. Para ele também o Brasil tem que passar por um momento de definição política, “mas estamos com expectativa de retomada do mercado imobiliário”. Ambos dirigentes estão de acordo com os números registrados no último levantamento do índice de Confiança do Empresário da Construção Civil. Em agosto, o indicador, calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), atingiu 57 pontos, uma alta de 2,9 pontos, alavancado justamente pela variável Expectativa. De acordo com a pesquisa, “a melhora no Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) ocorreu em função do componente de Expectativa, que ficou em 55,3 pontos, já que o Indicador de Condições Atuais situou-se abaixo da linha de 50 pontos”, diz nota divulgada pela entidade.

O índice de intenção de investimento cresceu 0,8 ponto na passagem de julho para agosto, atingindo 32,1 pontos. O índice segue muito baixo, o que indica pouca intenção do setor em investir. Já os indicadores de expectativa mostraram alta em agosto. Todos ficaram acima dos 50 pontos, o que indica expectativa de crescimento da indústria da construção nos próximos meses. Para o dirigente do Sinduscon, essa melhora deve aparecer distribuída em diversos segmentos da construção civil, mas, em especial, no setor de imóveis não residenciais, na esteira dos investimentos represados no País.

“Esperamos que 2019 seja bom e que o segundo semestre seja melhor que o primeiro. Já há empresas com projetos prontos para ampliar, apenas aguardando o cenário de estabilidade”, garante. “Risco há”, diz Dal Molin. “Mas risco sempre existe. O que fazemos é reduzi-lo.” Oportunidade ideal para investir em imóveis de nichos Cresceu a procura nos canais de venda, observa Sessegolo LUIZA PRADO/JC Uma vez por mês, executivos do ramo imobiliário do Brasil inteiro se reúnem para traçar um panorama do setor. Nos últimos meses, a conversa deixou de ser um muro das lamentações e se tornou um repositório das esperanças dos mais de 80 dirigentes da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). “A locomotiva do mercado imobiliário é São Paulo.

E a cidade retomou os lançamentos – e vem vendendo tudo o que lança. O mesmo tem acontecido em Porto Alegre. Estamos vendo a retomada. Já cresceu a procura nos sites, nos canais de venda, nos plantões”, garante um dos vice-presidentes da Cbic, Ricardo Sessegolo, que também é diretor na Goldsztein Patrimonial. Pesquisa de indicadores imobiliários da Cbic, feita com o Senai Nacional, mostrou que, no segundo trimestre de 2018, houve um aumento de 119,7% no número de lançamentos no País em relação ao trimestre anterior e um crescimento de 19,9% em relação ao mesmo trimestre de 2017.

Os dados indicam que não apenas há uma recuperação no ano, mas também um incremento relativo ao mesmo período. As vendas acompanharam os lançamentos e apresentaram um aumento de 17,3% em relação ao trimestre anterior e uma alta de 32,1% em relação ao mesmo trimestre de 2017. Como a base anterior era bastante baixa e o estoque, grande, o número positivo indicou uma retração pequena do estoque das construtoras. Houve, segundo o levantamento da Cbic, queda de 1,1% em relação ao trimestre anterior.

Mas nada de velocidade de vendas ou preços altos – ao contrário. O estoque represado e a lentidão para comercializar tanto imóveis novos quanto usados tornou o momento de crise no setor uma oportunidade ideal para comprar – seja para investir ou para morar. Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), os preferidos do consumidor são os imóveis de nicho. Seja para jovens solteiros, para o público acima dos 50 anos, famílias jovens, quem pesquisa bastante e constrói de forma certeira tem muito mais chances de vender corretamente. “Na crise, se pegarmos nichos somando a pesquisa ao feeling do empresário, as chances de acertar são muito maiores. O que o público quer? Área de lazer? Garagem maior? Serviços compartilhados? Pesquisa é o caminho”, sugere.

 

Outro fator favorável à aquisição da casa própria são os juros, que nunca estiveram tão baixos no País – a Selic é a menor da série histórica. A Caixa Econômica Federal reduziu, no final de agosto, as taxas de juros do crédito imobiliário para operações com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). As taxas mínimas passaram de 9% para 8,75% ao ano, no caso de imóveis dentro do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), e de 10% para 9,5% ao ano, para imóveis enquadrados no Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI). O banco estatal também subiu o limite de cota de financiamento de imóveis usados de 70% para 80%. Para este ano, o banco tem R$ 82,1 bilhões disponíveis para o crédito habitacional e mantém a liderança no setor com 69,3% das operações para aquisição da casa própria.

Estão enquadrados no SFH os imóveis residenciais de até R$ 800 mil. Os imóveis residenciais acima dos limites do SFH são enquadrados no SFI. “E com essas vantagens, os bancos privados vão atrás para não perder terreno”, avalia o presidente do Sindicato da Habitação do Rio Grande do Sul (Secovi/Agademi), Moacyr Schukster.

O dirigente está otimista com o desempenho das vendas de imóveis no ano que vem. Para ele, independentemente da orientação política, todos os principais candidatos à presidência mostraram-se sensíveis ao setor da construção civil. “A construção é a filha querida dos presidenciáveis, então todos olham para ela com carinho”, brinca Schukster.  

Raio X: Em lenta recuperação A série histórica da construção civil enche o setor de saudade. Em 2010, o setor navegava em velocidade de cruzeiro, com crédito facilitado para todos os segmentos de consumo, economia em franco crescimento, emprego e perspectiva de Copa e Olimpíadas. A instabilidade a partir de 2015 se refletiu rapidamente nos números do setor, que agora aposta nas reformas fiscal e trabalhista para se recuperar a partir do segundo semestre do ano que vem.  

 

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