GLAUCO DINIZ DUARTE – Construtoras apostam em óculos de realidade virtual
A tecnologia invade os lançamentos do mercado imobiliário. Óculos de realidade virtual, que permitem “visitar” apartamentos ainda em construção, começam a ser difundidos no Brasil. O equipamento facilita a vida do cliente, que pode ver diversos empreendimentos simultaneamente sem se deslocar.
Uma das pioneiras no uso da tecnologia foi a construtora Gafisa, que começou a utilizá-la em lançamentos em solo paulista há um ano. Octávio Flores, diretor de negócios da empresa, explica que usa o sistema em 3D para exposição de apartamentos compactos de 30m² a 50², com dois quartos. Ele defende que a nova tecnologia deve ser usada apenas neste tipo de construção:
— Acredito que não funciona no mercado de alto e altíssimo padrão. Este cliente precisa ver a amplitude da sala, a largura do corredor, quer visitar para poder se planejar. É um outro tipo de proposta, que não se encaixa muito no uso dos óculos, que não conseguem absorver todos o espaços de um imóvel grande — defende.
Espaço é o que não falta para o terreno do Alphaville Urbanismo. A empresa utilizou o instrumento no estande de vendas do Alphaville Costa Verde, empreendimento de 438 mil m² localizado no litoral sul do Rio. Na ação, os óculos permitiram que as pessoas sentissem como é jogar tênis em uma quadra e visualizassem toda a área do futuro condomínio.
— Comercializamos os lotes das residencias enquanto as obras de urbanização são realizadas e essa tecnologia permite que os clientes passeiem pelo local que será sua moradia no futuro e visualizem em 3D qual será a aparência do empreendimento. As pessoas ficaram maravilhadas — garante o gerente comercial da empresa, Francisco Gerótica.
Poupar tempo em visitas a diversos estandes também é uma das vantagens da realidade virtual. A construtora Fernandes Araujo, por exemplo, utilizou no lançamento dos projetos Rivieras D’Florença, Guess e Composè Residencial Clube, entre outubro e janeiro deste ano.
— Resolvemos investir nessa ação porque entendemos que traria comodidade: o cliente não precisaria se deslocar até o estande de vendas de cada projeto para ver como ele ficaria. Em um único local, ele poderia conhecer empreendimentos no Recreio dos Bandeirantes, na Freguesia ou na Taquara sem perder tempo — diz Paulo Araujo, diretor comercial da Fernandes Araujo.
Substituir ou não?
A maior vantagem passa pelo caixa das imobiliárias e construtoras: o custo de um apartamento decorado é de cerca de R$ 300 mil contra os R$ 80 mil dos projetos em 3D mais sofisticados. Mesmo assim, as fontes do setor não acreditam que a tecnologia substituirá o tradicional. Para Lucas Vargas, executivo chefe de operações do VivaReal, o mercado imobiliário, historicamente, demora a adotar novas tecnologias.
Além disso, ele salienta que o uso dos óculos é mais um objeto de marketing, quando a empresa deseja transmitir um ar inovador a sua marca.
— Os óculos não substituem a visita aos estandes. O sucesso da tecnologia só acontece quando há adoção em massa. E quando todos os clientes terão um aparelho deste para ver os imóveis sem sair de casa? É um futuro muito distante — defende Vargas, que completa dizendo que as vendas pela internet também são algo bem longínquo:
— O brasileiro geralmente compra um imóvel próprio durante toda a vida. Ele quer visitar e conversar com o vendedor para ter certeza de que fez a opção correta. A venda virtual não garante esta certeza — conclui.
Para Luiz Fernando Moura, diretor da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), os dois modelos de apresentação caminham juntos.
— A tecnologia permite muita mobilidade para que os representantes comerciais das empresas possam mostrar diversos empreendimentos ao cliente de qualquer lugar, durante o lançamento ou depois que o estande de vendas foi desmontado e as obras já começaram — considera o diretor.
Esta facilidade apontada por Moura fez com que a construtora Direcional preparasse um tour virtual em 3D pelos empreendimentos Conquista Tomás Coelho e Conquista Itaboraí, onde é possível circular pela sala, quartos, cozinha e banheiro.
— Nosso intuito é dar ao interessado a experiência de visitar o futuro apartamento por meio de uma nova perspectiva. Com o auxílio dos óculos de realidade virtual, podemos levar o apartamento decorado para qualquer lugar — avalia Adriano Nobre, superintendente de Incorporação.
Assim como a Direcional, a Avanço está utilizando o equipamento para o lançamento, ainda neste semestre, do empreendimento Now, na Vila da Penha, sem substituir o apartamento decorado: é só um aperitivo.
— O cliente poderá ver a fachada, a área de lazer, o terraço da cobertura e a churrasqueira de forma bem impressionante. Ele se sente dentro daquele ambiente, pois é possível verificar até os acabamentos, como o tipo de textura da parede. Mas não acredito que essa tecnologia irá substituir o apartamento decorado futuramente — explica a gerente de marketing da companhia, Janaina Batalha.
Fabricantes apostam na popularização
Este será um ano de consolidação da tecnologia para o mercado imobiliário. É o que afirma Renato Citrini, gerente da divisão de Dispositivos Móveis da Samsung Brasil, umas das principais fabricantes de óculos do setor.
A tecnologia da empresa está sendo usada em diversos empreendimentos imobiliários citados na página anterior, como os das construtoras Avanço e Direcional.
Renato explica que, com a realidade virtual, as imobiliárias podem simular mais facilmente diversas configurações de um mesmo apartamento: trocar os móveis de lugar, por exemplo, e testar cores.
A empresa lançou recentemente o modelo Gear VR, sua terceira geração de óculos, que custa R$ 800. Para usá-los, é preciso ter um aplicativo específico no celular.
Uma opção mais barata é o cardboard, uma estrutura feita de papelão, que utiliza equipamentos como elásticos e um imã para transformar o celular em um óculos de realidade virtual. Criada pelo Google, a tecnologia foi adotada no país pela Cardboard Brazil, que utiliza o mesmo aplicativo da empresa americana. A estrutura pronta custa R$ 50.
O presidente da companhia, Douglas Monteiro, explica que já forneceu os óculos para uma incorporadora (cujo nome ele prefere não revelar) e diz que conhecer um imóvel utilizando os óculos se assemelha a uma “visão de teletransporte”. Ele aposta no futuro da tecnologia na área de imóveis, mas acredita que o próximo passo é a capacitação dos funcionários do setor.
— Quando chega uma nova tecnologia, surgem especializações. O que falta no mercado, hoje, são profissionais com conhecimento técnico — afirma.
Além dos óculos, as construtoras têm que investir no conteúdo que será reproduzido, que é feito por agências digitais. Para Leonardo Bartz, um dos fundadores da Digital Light, o momento negativo da economia pode ter contribuído para as empresas adotarem a tecnologia:
— Um apartamento decorado é muito caro e leva tempo para fazer. Utilizar os óculos não se compara a visitar um apartamento real, mas é o que mais se aproxima — destaca.
Ele explica que o uso dos aparelhos pode causar incômodo, mas relata esforços para melhorar a experiência.
— Logo que começamos, alguns se sentiam mal. Hoje, 95% das pessoas não têm efeito nenhum de tontura — garante.
Os executivos do setor também apostam que, com a popularização dos óculos, as pessoas vão poder fazer a “visita virtual” de casa, utilizando um aplicativo no celular, sem a intermediação de empresas.