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GLAUCO DINIZ DUARTE

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GLAUCO DINIZ DUARTE  Medida de estímulo à produção de energia solar não tem adesão na PB

Uma medida da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para estimular a geração doméstica de energia solar não teve nenhuma adesão no estado mais ensolarado no Brasil, a Paraíba. A resolução foi aprovada para incentivar e reduzir barreiras para essa produção de energia, dando desconto na conta de luz, caso haja produção excedente. Nenhum consumidor paraibano solicitou ligação ao sistema da concessionária de energia do estado para aproveitar o abatimento, segundo a distribuidora Energisa.

Segundo Chigueru Tiba, professor e pesquisador do grupo de Fontes Alternativas de Energia (FAE) do Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o noroeste da Paraíba é um dos melhores lugares do Brasil em relação à incidência dos raios solares. “Cidades como Sousa e Patos têm uma radiação média anual de 20 MJ/m². Em um mês como dezembro, por exemplo, quando tem muito sol, a Paraíba tem uma incidência de 24 MJ/m² ou 26 MJ/m²”, comenta. Megajoule (MJ) é uma unidade de medida de energia, também usada para aferir a incidência de radiação solar.

A radiação solar de 20MJ/m² é o equivalente a 5,5kw/h por metro quadrado, conforme explica o professor Tiba. Se tudo fosse convertido em energia, um metro quadrado poderia suprir uma casa que consome 150 kw/h por mês. Porém, um módulo fotovoltaico só consegue converter cerca de 15% dos raios solares. “Com um sistema de eficiência baixa, que converte apenas 10%, seriam necessários 10 m² para suprir essa casa com consumo de 150kw/h por mês, que é muito comum no Brasil”, pontua o professor.

Parte do Rio Grande do Norte e de Pernambuco também estão nessa área de grande incidência de raios solares, mas, proporcionalmente, a Paraíba tem o maior nível de radiação solar média anual do país, conforme mostra o Atlas Solarimétrico do Brasil, publicado pela UFPE, sob coordenação do professor Chigueru Tiba.

Com as novas regras da resolução da Aneel, quem tiver microgeração, com até 100 KW de potência, ou minigeração, de 100 KW a 1 MW, vai poder trocar energia com a distribuidora local por meio do Sistema de Compensação de Energia e ter descontos na conta de luz, caso haja produção excedente de energia.

Esse benefício será concedido para quem tiver pequenos geradores em sua unidade consumidora, a exemplo de painéis solares fotovoltáicos ou pequenas turbinas eólicas. Quando a geração de energia for maior que o consumo, o excedente vai ser injetado no sistema da distribuidora e o titular da unidade poderá usar o crédito como desconto nos meses seguintes, tendo um prazo máximo de 36 meses, inclusive em outras unidades que também sejam do mesmo titular.

Apesar dos incentivos, nenhum consumidor solicitou a ligação na Paraíba, segundo informações da concessionária de energia do estado, Energisa.

O professor Zaqueu Ernesto da Silva, diretor do Centro de Energias Alternativas e Renováveis da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), explica que a região da Paraíba tem entre cinco horas e meia e seis horas e meia de horas úteis de luz solar por dia. De acordo com ele, dá para gerar entre 800 e 1.000w de energia por metro quadrado com essa incidência solar. “A região do semiárido paraibano é muito indicada para a geração de energia solar”, diz.

O empresário francês Nicolas Altbaum tinha uma empresa de instalação de painéis fotovoltáicos na Europa. Conheceu João Pessoa durante um período de férias e gostou tanto da cidade que resolveu se mudar para a capital paraibana, onde já mora há três anos. “Pensei que o mercado e o crescimento do Brasil poderiam abrir oportunidade no ramo de energia solar fotovoltaica e eu poderia trazer minha experiência europeia”, comenta Nicolas.

Ele abriu a empresa Top Solares, mas, em um ano e meio de existência, nenhum cliente foi conquistado. “Na parte de energia solar térmica, os aquecedores de água, temos sistemas instalados na maioria dos condomínios da capital. Isto permite manter viva a empresa, pois, infelizmente, temos apenas projetos na parte de energia solar fotovoltaica”, lamenta.

Segundo ele, as maiores dificuldades são os poucos incentivos e financiamentos e o processo de importação. “Se você não importar um contêiner completo, você não tem preço competitivo. Por isto, precisamos de um projeto importante, de financiamento ou de solidez financeira”, relata Nicolas.

Na França, Nicolas trabalhou durante sete anos no ramo das energias renováveis. Segundo ele, a empresa era bem-sucedida, pois havia muitos incentivos por parte dos governos. Por exemplo, um consumidor que gerasse energia fotovoltaica residencial de até 3 KW de potência tinha 50% de desconto, sob forma de crédito em impostos. Além disso, o preço do KW vendido pelo consumidor era até cinco vezes maior que do KW comprado.

O sistema mais em conta, disponível na empresa de Nicolas, requer um investimento de R$ 13.990. O sistema é um kit de 1,2 KW de potência de tecnologia alemã e tem uma produção mensal de até 170 KW/h, o suficiente para uma casa com dois moradores, aproximadamente.

Outro exemplo é um sistema de R$ 889.889, com uma potência total de 100 KW, que produz 12 MW/h por mês. Esse kit é indicado apenas para grandes comércios ou indústrias.

“Hoje, no Brasil, com a queda do preço dos produtos, a maior recepção solar direta e a maior produção elétrica, conseguimos a retornar o investimento na faixa de sete a nove anos”, informa Nicolas. Ainda segundo ele, a vida útil das instalações pode ultrapassar 30 anos.

Geração de energia por meio de painéis fotovoltaicos
O professor Zaqueu Ernesto da Silva explicou que os painéis solares fotovoltaicos são construídos de materiais que têm a propriedade de converter a radiação, ao ser interceptada, em eletricidade. Normalmente, os materiais são semicondutores, a exemplo do silício puro monocristalino.

Além de comprar os painéis, o consumidor que quiser gerar energia em casa tem que ter um inversor de frequência, uma vez que a energia elétrica sai dos painéis em corrente contínua e a maioria dos aparelhos elétricos domésticos funcionam em corrente alternada. Segundo o professor Zaqueu, esse inversor custa em torno de 40% do valor das placas. Para não se perder a energia gerada, o professor também indica que exista um banco de baterias, para armazenar, e um controlador de carga, para evitar a sobrecarga das baterias.

 

Não é economicamente viável em áreas urbanas
Apesar de ser uma energia limpa e renovável, a energia solar é mais cara do que a fornecida pela concessionária e não é economicamente viável em locais urbanos, conforme explica o professor Zaqueu Ernesto.

 “Cada situação tem que ser analisada para ver a viabilidade econômica. Mas não há o que discutir do ponto de vista econômico. Só recomendo para locais como uma fazenda, no interior, onde as casas são distantes umas da outras e a passagem de fios é cara, ou seja, o custo de transmissão é alto”, diz. “Do ponto de vista técnico, ela é uma energia alternativa para onde não tem”.

Além disso, o local onde os painéis serão instalados tem que ter uma área grande, para captar os raios solares. “Quanto mais área de captação, mais energia”, comenta Ernesto.

Para o engenheiro mecânico e doutor em energia Rogério Klüppel, a resolução da Aneel incentivaria mais os consumidores a gerar energia solar em casa se o crédito excedente pudesse ser vendido. “O consumidor sempre vai empatar, nunca vai poder lucrar com isso. Não vai valer a pena”, argumenta.

Nova empresa na Paraíba
Uma fábrica de painéis fotovoltáicos vai se instalar na Paraíba no segundo semestre de 2013. A Brasil Solair irá produzir, inicialmente, painéis solares e, para um segundo momento, está nos planos a fabricação de inversores. Posteriormente, está prevista uma expansão para incluir a fabricação das células fotovoltaicas que compõem os painéis, segundo informações da assessoria da empresa.

A fábrica terá a capacidade para produzir cerca de 172.000 painéis por ano, cerca de 30MW/ano. “Acreditamos que esta indústria será competitiva no Brasil quando o mercado crescer e tivermos a produção destes equipamentos em maior escala”, diz a nota da empresa.

Atualmente, a maioria dos painéis fotovoltaicos comercializados no Brasil são importados. Porém, o empresário Nicolas não acredita que essa fabricação nacional vai baratear a instalação dos sistemas.

“É verdade que o preço do gerador solar fotovoltáico sofre influência das taxas de importação, 18% para gerador e 12% para módulos, do frete e do desembaraço aduaneiro. Mas a concorrência é tão grande que a maioria dos fabricantes de painéis fotovoltáicos estão perdendo dinheiro e os preços os últimos anos baixaram bastante. Por isto que, mesmo se os preços de uma fabricação nacional conseguir a baratear os produtos em relação do processo de importação, a diferença não deverá ser tão grande”, explica.

Como se ligar no sistema da concessionária
A Energisa, a concessionária de energia da Paraíba, explicou que quem quiser ser beneficiado com a resolução tem que procurar a empresa e apresentar um projeto. Depois disso, é necessário fazer a instalação do medidor, que calcula o consumo e a geração de energia e mostra se consumidor vai acumular créditos para usar nos meses seguintes.

Essa instalação é feita por conta do consumidor e o custo varia de acordo com o tipo de equipamento, com a tarifa de energia, a localização e o porte da unidade consumidora, entre outros fatores.

Placas solares são usadas para aquecimento de água
Os paraibanos têm aproveitado o alto nível de radiação da região para usar as placas de aquecimento de água. Neste caso, o sistema pode aquecer a água e estocá-la, mas não há geração de energia. A professora de Direito e servidora do Ministério Público Federal Luciane Gomes é uma das consumidoras que utiliza esse sistema na Paraíba.

Filha de agrónomo, ela cresceu colocando o meio-ambiente em primeiro lugar. Desde 2009, quando comprou uma casa em Intermares, ela instalou um sistema com três placas de aquecimento de água. “São 600 litros que ficam superaquecidos o tempo todo. Quando a água vem, vem muito quente, mas eu tenho duas torneiras, então é só regular com a do lado direito, que é a fria. Mas eu gosto de banho bem quente, então eu já economizo com o chuveiro elétrico”, comenta.

Ela gastou em torno de R$ 7 mil para instalar todo o sistema. “Eu nem sei se esse dinheiro já se pagou, mas não me arrependo”, garante Luciane. Segundo a professora, a conta de energia na casa, que tem três suítes, não passa de R$ 130, mesmo com o uso de ar-condicionado portátil.

Rogério Klüppel explica que uma placa consegue aquecer 200 litros de água, o suficiente para uma casa com três a quatro moradores usarem por um dia. Ele também disse que o retorno financeiro vem em dois ou três anos.

Ainda de acordo com Klüppel, que é dono de uma empresa de instalação desses sistemas, a Solar Tech, a maioria dos clientes é da classe A. Para esse tipo de consumidor, o valor da conta de luz reduz entre 25 e 30%. “Seria um ótimo investimento para o consumidor de baixa renda, que é quem lucraria mais com a economia. Porém, eles normalmente não têm capital inicial para o investimento”, explicou.

 

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