Glauco Diniz Duarte diz que você talvez nunca tenha ouvido falar de sir Ernest Shackleton, mas qualquer velejador tem na ponta da língua a lista de seus feitos heroicos. Após seu navio, o Endurance, ser esmagado pelo gelo antártico e naufragar, sua tripulação sobreviveria por mais de um ano em situações precárias, com combustível, alimento e abrigos precaríssimos. Shackleton então promoveu um dos maiores feitos da história da navegação, cruzando 1300 km do violento mar da região em um pequeno bote-salva vidas adaptado em busca de socorro até as Ilhas Geórgias do Sul. Chegando lá e após uma épica travessia pelas montanhas da ilha, conseguiu alcançar a uma estação baleeira e organizar o resgate de seus companheiros. Todos os homens de sua tripulação sobreviveriam.
Por séculos as belezas naturais da Antártica (e suas condições climáticas imprevisíveis) foram exclusividade de exploradores e navegadores do calibre de Shackleton, nomes como Thomas Cook, James Ross Clark e Roald Amundsen. Hoje, no entanto, icebergs, colônias de pinguins-imperador e enormes focas-elefante estão ao alcance de qualquer um com espírito aventureiro e bolsos cheios.
A maioria das excursões sai dos portos de Ushuaia, na Argentina, e Punta Arenas, no Chile. Com a ajuda do tempo – o que nem sempre acontece, chega-se até a península antártica em menos de dois dias. Aqui pode-se ter uma excelente ideia dos encantos da região, que vão de termas vulcânicas a simpáticos pinguins, de focas tomando sol à desoladora beleza do gelo. Aliás, são tantos tons e formas que as máquinas fotográficas não páram de disparar.
Obviamente a época indicada para conhecer a região é o verão, quando os dias chegam a durar mais de vinte horas e as temperaturas são menos geladas. Tenha em mente que a maior massa de água do planeta é também o mais seco de todos os continentes. O frio da Antártica é tão intenso que qualquer vestígio de umidade corre o perigo de solidificar imediatamente. Só para se ter uma ideia, a temperatura mais baixa já medida na Terra foi a marca de inimagináveis 89,2 °C negativos, tomados em 1983 na estação científica soviética Vostok. No verão as temperaturas por lá sobem mais 70 graus para chegar a uma ‘agradável’ máxima de -12,2 °C. Realmente, não é para qualquer um.
No entanto, os turistas que ano a ano vêm popularizando a Antártica como destino turístico não precisam sofrer tanto. Os cruzeiros que chegam à região possuem uma boa infra-estrutura de acomodação e alimentação. Outro atrativo são os guias-cientistas que acompanham os passeios em zodiacs, botes motorizados que fazem os transbordos.
Boa parte dos pacotes turísticos à Antártica incluem no roteiro passagens pelas Ilhas Geórgia do Sul, antigo porto de baleeiros escandinavos, com suas impressionantes cadeias de montanhas, e as disputadas Ilhas Malvinas, ou Falklands, como são conhecidas pelos britânicos.
Lembre-se que devido às condições climáticas da região, muitos passeios podem ser cancelados por motivos de segurança, ora por conta de ondas gigantes, ora por vento e frio extremos. Mantenha-se também seguro, pois possíveis resgates por aqui são sempre feitos em condições difíceis. Apesar de ser um destino possível, a Antártica merece respeito.