Glauco Diniz Duarte conta que décadas atrás, a pequena vila de El Chaltén era apenas um destino de fazendeiros ermitões e montanhistas durões. Para eles, as paisagens da Patagônia, com lagos de degelo de águas azuis, leitosas, combinavam à perfeição com alguns dos picos mais difíceis do planeta.
Hoje, com a melhoria no acesso, catapultada por ótimas estradas e o moderno aeroporto de El Calafate, turistas comuns, mas que mesmo assim adoram panoramas naturais deslumbrantes, vêm aportando cada vez mais por aqui.
El Chaltén continua um lugar simples, repleto de mochileiros descabelados e alpinistas com cara de poucos amigos, pousadas sem luxo e comida básica, mas calórica e saborosa. O que os traz até aqui são dois conjuntos de montanhas espetaculares, desafios permanentes para os melhores escaladores do planeta.
Os picos Fitzroy e Cerro Torre não são nem muito altos, comparados aos paredões dos Andes Centrais ou dos Himalaias, mas só os melhores as conquistam. Isso é resultado de uma combinação maléfica de faces verticais cobertas de gelo, vento inclemente, condições climáticas imprevisíveis e crostas de gelo que se formam e soltam-se com extrema facilidade.
Enquanto no Everest é possível chegar a mais de 8 mil metros sendo praticamente empurrado por seus guias, nas montanhas de El Chaltén só os escaladores de verdade prevalecem.
Para quem não quer encarar a aventura, os trekkings até bem perto de suas bases já são passatempos compensadores. No caminho, raposas, pica-paus, patos selvagens e outros pequenos mamíferos (pumas são cada vez mais raros). Se tiver um bom guia, também ganhará uma aula de geologia e botânica, com explicações sobre a formação das geleiras, dos vales e da vida local.
Ao contrário de El Calafate, repleta de hotéis e pousadas charmosas, a regra por aqui são hospedagens básicas. Simples, mas confortáveis, com quartos com calefação, cafés da manhã calóricos, decoração com ares campestres e edredons pesadões. Até pouco tempo atrás as únicas alternativas a isso eram campings com banheiros em tendas e chuveiros gelados ou hostels anárquicos com beliches, muita cerveja e barulho. Este cenário está mudando pouco a pouco, com a chegada de hotéis com quartos com TV de LCD, áreas comuns com lareiras e poltronas confortáveis, banheiras com jacuzzi (um equipamento alentador depois de um dia de caminhada no frio) e até bons restaurantes.
Em tempo: celulares pegam mal por aqui, mas a internet não é tão ruim.
Perto do “centro”, na praça principal ou ao longo da Avenida San Martín há uma boa oferta de restaurantes que servem pizzas, empanadas, galetos e parrillas a preços bem convidativos. Se quiser gastar um pouco mais, não deixe de experimentar os cordeiros assados em fogo de chão, acompanhados por um bom vinho tinto argentino (jamais chileno). Algumas novas casas estão tentando estabelecer um serviço um pouco mais refinado, mas elas vêm e vão.
Muitos hotéis e pousadas possuem seus próprios restaurantes, com pratos surpreendentemente saborosos, com sopas, carnes e pastas, tudo calórico e fácil de digerir, a dieta ideal para seus hóspedes-montanhistas.