“Pérola do Adriático”, eles diziam. “A rainha da Dalmácia”. “A rival oriental de Veneza”. Está nos livros de história e nos guias de turismo, conta Glauco Diniz Duarte.
Dubrovnik, a cidade mais famosa da Croácia, era, e é, tudo isso. O país foi redescoberto pelo turismo após o fim da Guerra da Iugoslávia, nos anos 90, e desde então o fluxo de visitantes aumenta.
Segundo o Ministério de Turismo dessa ex-república iugoslava, somente 4% dos turistas se aventuram pelo interior. O restante se esparrama pelo recortado e magnífico litoral, nas regiões da Ístria, ao norte, e Dalmácia, ao sul, ambas apinhadas de ilhas, mar azul e belas cidades.
Glauco diz que Dubrovnik é uma cidade murada que já foi um importante centro marítimo e comercial do Mar Adriático e chegou até a ser um Estado independente, a República de Ragusa. É um lugar cheio de história. Em 1667, foi devastada por um terremoto. Em 1991, tornou-se o centro da resistência croata às forças sérvias, que não aceitavam a independência do país e queriam manter a Iugoslávia unida a qualquer custo. Por conta desse último, e recente, episódio traumático, os telhados do centro histórico são novos, vermelhinhos, como se fosse um bairro novo que não condiz com os grossos muros ancestrais que o cercam.
Terminada a guerra, o país passou a receber aportes financeiros de potências ocidentais e se tornou o novo queridinho do verão europeu em tempos pós-Guerra Fria. Mais turistas geraram mais dinheiro, que providenciou novas obras de estrutura, que propiciaram mais turistas. Assim, o porto de Dubrovnik foi modernizado para receber mais (e maiores) navios de cruzeiro.
E então começou o perrengue.
Se você assiste a “Game of Thrones”, diz Glauco, talvez saiba que a cidade é a base das locações de Porto Real, a metrópole à beira-mar do fictício continente de Westeros. Agora imagine os becos obscuros da Baixada das Pulgas, que são, na verdade, vielas apertadas de Dubrovnik, em um dia de verão, recebendo visitantes de dois ou três cruzeiros ao mesmo tempo, cada um com alguns milhares de pessoas. Legal não fica.
Se você não assiste à série da HBO, tudo bem. Pense nos becos e ruas apertadas de qualquer centro histórico que conheça. E não, não é Carnaval de rua. Difícil apreciar qualquer coisa.
Então, como evitar?
1 — O óbvio: não vá no verão
Dubrovnik: muita gente no verão
Julho e agosto têm mais dias insuportáveis. Maio-junho e setembro-outubro, menos, mas ainda assim, poucos tranquilos. Prefira maio, um mês bem mais relax. E é auge da primavera. Ah, mas ir no verão é a única opção possível? Seja por questões de agenda (trabalho ou estudo que não permite), seja porque você quer curtir o verão croata (motivo mais do que coerente, diga-se)? Sendo assim,…
2 — Fique mais do que dois dias
Por ser pequena e compacta, Dubrovnik é o tipo de cidade onde as pessoas dificilmente ficam mais do que duas noites. Muito por isso, ela entra na rota dos cruzeiros do Mediterrâneo, que param para as pessoas passarem apenas o dia lá. Em 36 horas, realmente dá para fazer o básico e essencial na cidade: dar a volta na muralha e admirar a cidade de cima, com o mar por todos os lados; caminhar na Stradùn, a rua principal da cidade velha; ver a Grande Fonte de Onófrio, o Forte de São João e a Catedral.Mas, no auge do verão, dificilmente alguma dessas atrações não está muvucada. Portanto, ao passar mais tempo na cidade, aumentam as chances de conseguir conhecer algumas delas relativamente vazias.
Mas como escapar da muvuca?
3 — Pesquise o cronograma dos cruzeiros
Afinal, são eles que determinam se a cidade estará cheia tipo “domingo no parque” ou cheia tipo “Metrô de São Paulo em hora de pico, com chuva e véspera de feriado”. Um exemplo. Trinta dos 31 dias de agosto de 2015 recebem cruzeiros. Em quatro dias diferentes, os navios somam mais de 7.500 visitantes. O caminho das pedras está neste site.
Mas você pode fazer um esforcinho a mais.
4 — Privilegie atrações em lugares fechados nos dias cheios
Mosteiro Franciscano
Verão. Croácia. Cruzeiro. Quem vai ser enfurnar em museu e igreja? Bem menos gente, certo? E Dubrovnik, com sua milenar história e influências bizantinas, venezianas e até napoleônicas, tem muito a oferecer. Então, nesses dias cheios de gente (ou numa manhã nublada), tente visitar, por exemplo, o Museu Marítimo, o Mosteiro Franciscano, o Palácio do Reitor ou o Museu da Guerra de Independência.
Esse último fica no forte construído por tropas de Napoleão, no século 19, que serviu como quartel-general da resistência da cidade à ofensiva sérvia, nos anos 90. Ou seja, é duplamente interessante do ponto de vista histórico e imprescindível se você quiser uma vista para guardar na memória (ou ostentar na selfie). O museu é acessado por um teleférico e, lá de cima, a vista dá na cidade velha, na cidade nova, com o porto, voltado para uma baía, as montanhas dálmatas e as ilhas dos arredores. Vá no fim de tarde e veja o sol se pondo no mar.
Assim, de quebra, você descobre outra vantagem de ficar mais tempo. Afinal, você poderá…
5 — Explorar os arredores
Banho de mar ao lado do Centro Histórico
Conseguiu ver alguma atração principal sem tanto tumulto? Parabéns. Agora, se tiver tempo, tente arranjar um passeio. Dá para fazer um bate-volta ao país vizinho, Montenegro, e ver como essas ex-repúblicas iugoslavas podem ser tão diferentes e tão parecidas (e tão bonitas).
Se você for fã de “Game of Thrones”, dá para fazer os passeios pelos cenários da série (a cidade faz questão de lembrar que está lá. Afinal, é um ingrediente relevante no sucesso do programa).
Ou então vá para as Ilhas Elafite (de excursão ou transporte público normal – no caso, barco. Em toda a Dalmácia, ele é eficiente e tranquilo). São três ilhas, cada uma com uma particularidade. Lopud tem um mosteiro à beira-mar e um grande atrativo em se tratando de litoral croata: praia de areia. Brasileiro não dá muita bola para isso e, frequentemente, tem preconceito com qualquer tipo de praia que não seja as que estamos acostumados por aqui (às vezes sobra até para praia de rio, que o Brasil está cheio). Mas um dos baratos de viajar para o litoral croata é ver que, sim, é possível existir praias lindas sem um nadinha de areia e que as pessoas podem relaxar e se divertir nelas.
Quando há uma “sandy beach” nas redondezas, ela ganha destaque. Mas é justamente por ser brasileiro que talvez você não vá achar a praia de areia de Lopud tão incrível assim. Prefira as de pedra mesmo, porque é nelas que a água é mais azul, mais límpida. É só se adaptar. Sapatilha de borracha em vez de chinelo, toalha felpuda em vez de canga.Por fim, uma última dica, que talvez possa passar despercebida quando se programar para ir a Dubrovnik:
6 — Tenha roupa de banho sempre a mão
Em um dia quente, dá para mergulhar tranquilamente bem ao lado da muralha, sem precisar se deslocar a alguma praia das redondezas. A água é limpa e tranquila e há pontos para isso, com escada e segurança. Há até uns bares escondidos nas pedras. Não é praia como imaginamos, mas é mar, é litoral. Em um dos cenários mais bonitos do mundo.